Quinta-feira, 30 de Novembro de 2006
(...) encontrei a obra de Cesariny com 18 anos e um arrepio. Não sabia que a nossa língua se prestava àquilo. Por minha máxima culpa, não sabia que se podia descrever “Um anão inglês a atravessar uma rua inglesa / com um fato à inglesa muito curto / e a mãozinha inglesa a dar a dar”. Quando soube, apanhei tal devoção pelo homem que desatei a lê-lo e a relê-lo inteiro, poemas, ensaios, epístolas, polémicas, manifestos. E tentei ridiculamente copiá-lo, rabiscando versinhos miseráveis. E um dia escrevi-lhe uma carta de agradecimento e louvor, que o decoro me impediu de enviar (...)
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(...) há sempre cépticos dispostos a duvidar da gloriosa tradição das ONG e da utilidade de exercícios assim. Por exemplo, nem todos acreditavam que umas bandas “pop” aos guinchos em Londres aboliriam a fome em África. E depois viu-se. A título de garantia adicional, uma das promotoras do Orgasmo Global chama-se Donna Sheehan, e é a exacta senhora que, em 2002, mandou 50 mulheres de diversas idades e figuras tirarem a roupa e gritarem a palavra “Paz”. Os resultados, na harmonia terrestre e no êxodo de inúmeros homens rumo à homossexualidade, ainda hoje repercutem (...)
Vai de metro, Satanás
A frase acima, de Alexandre O’Neill, ilustra o relatório do Tribunal de Contas, que anteontem apontou, além de umas trapalhadas avulsas, diversas “irregularidades” nos prémios, nos salários e nas restantes benesses da administração da Metro do Porto. Ficamos assim informados de que os prémios anuais se aproximam dos 100 mil euros, que os salários dos administradores não executivos atingem os 3250, e que estes últimos auferem um crédito mensal de outros 1250 para gastos menores. Convém acrescentar que o relatório é de uma irresponsabilidade atroz.
Domingo, 26 de Novembro de 2006
Ouro trigo leão e prata e crinate esperam sob o vaso menstrualSepararás primeiro a água e a minaPorque a água não é um mineralNo coágulo te espera areia finae sob a areia planta sideralque ao manto do Rei Verde se combinaporque a Planta não é um vegetalAo homem cabe o Ouro de buscá-loE a sua cria morta ou imortaltirá-la-às do ventre de cavaloporque o Homem não é um animalE se o espelho de cobre te fascinase te aparece o Monstro do Umbralque à ígnea terra o atro abismo ensinae nas trevas afunda o Bem e o MalReduz expurga fende e iluminae com espada de fogo talha e inclinaporque o Fogo não é o seu sinal
Sexta-feira, 24 de Novembro de 2006
23 de Novembro
E a verdade, espantosa que seja, é uma: o país é governado por Sócrates e Cavaco. Como se tornou isto possível? Através de duas monstruosas conspirações: as “legislativas” de 2005 e as “presidenciais” de 2006.
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Enfim, à hora do jantar, um amigo telefonou a informar-me da “chave” sorteada, para que eu a confrontasse com a nossa. Insultei o meu amigo e prossegui a refeição (cabrito, pelo amor de Deus). Ele voltou a ligar. Desculpei-me ao cabrito e, por desfastio, procurei as cópias dos boletins. Comparei número a número, estrela a estrela: nada, nada, nada, nada, sim. Sim. Sim, pois. Tudo certo, primeiro prémio, “jackpot”, fortuna a caminho. Não saltei de euforia, não me mexi nem falei. Deixei-me ficar sentado, a medir, sem conseguir medir, o que viria pela frente.
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Na quinta-feira, o eng. Sócrates apareceu a exaltar o sucesso do Plano Tecnológico entre os jovens. Com inteira propriedade, aliás: para esse exacto dia, centenas de alunos do “secundário” haviam convocado uma greve por SMS e “e-mail”, exibindo com destreza a adaptação das crianças à modernidade.
Quinta-feira, 23 de Novembro de 2006
...Masculin Féminin, de 1966, foi o último. A canção chama-se Tu m'as trop menti. A voz é de Chantal Goya, que também interpreta a fita, junto com Jean-Pierre Léaud, Marlène Jobert e, em cameo visível acima, BB, esse mistério que tanto defende a propriedade privada, os direitos dos animais, o anticomunismo e o anti-islamismo primários (sem dúvida os melhores), como apoia Le Pen. Deus, que a criou, que a entenda.
Quinta-feira, 16 de Novembro de 2006
(16 de Novembro)
Aviso: esta crónica não fala de Santana, do livro de Santana ou das queixas de Santana. Se discutirmos demasiado o homem, arriscamos dar-lhe razão, e, o que é pior, arriscamos descobrir que ele terá alguma.
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Há quem doe o cadáver à ciência. Eu estou disposto a oferecer o meu corpo vivo à burocracia de Bruxelas, e, se bem remunerado, deixar que ele parta em digressão pelas capitais dos 25, promovendo o acabado (salvo seja) exemplo do europeu médio.
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Importa que o PCP festejou, rodeado de amigos, os seus “85 anos de solidariedade com os povos em luta” (o lema do Encontro). E importa ainda mais que, a julgar pelos países e instituições convidados, os ditos povos talvez gostassem de agradecer pessoalmente ao PCP o empenho.
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É que, embora às vezes não pareça, a rua não existe apenas para resmungos colectivos. Há quem a utilize com a prosaica finalidade de se deslocar de um sítio para outro. E os resmungos, porque empanturram o trânsito e produzem barulho excessivo, são naturalmente desagradáveis.
(Com um pedido de desculpas pela ausência no lançamento, um obrigado ao casal Quevedo pela prenda, e um enorme abraço ao Carlos pelo Carlos.)
Quinta-feira, 9 de Novembro de 2006
A volumosa vitória dos Democratas (...) é antes de mais uma enorme condenação da guerra do Iraque. (
Vital Moreira)
A Administração Bush parece estar, finalmente, a pagar o preço. (
Pedro Arroja)